À beira de uma guerra civil, provocada pela pressão dos banqueiros europeus, mediante seus governos, a Grécia se agarra a um mito perdido, o de Alexandre, o Grande. Em nome do herói, litiga contra a ex-República da Macedônia, que pertencia à Iugoslávia e é hoje estado sob precária independência nos Bálcãs instáveis. Os gregos argumentam que o nome de Macedônia está ligado à Grécia Antiga, porque fazia parte do complexo geográfico habitado pelos povos gregos. Os macedônios eram gregos, embora não atenienses, como gregos eram também os espartanos. A Guerra do Peloponeso foi, assim, um conflito interno do ponto de vista nacional, embora fosse entre as cidades-estado do arquipélago. No segundo momento Filipe da Macedônia unificou a Grécia sob seu domínio e o legou a Alexandre, construtor de um dos maiores impérios da História.
O problema é que os gregos e os macedônios de hoje não podem reivindicar o heroísmo de Alexandre como legado nacional. Atenienses e espartanos, beócios e cretenses, tebanos e macedônios daqueles tempos fortes já não existem. Depois da vitória de Alexandre, o sistema ateniense se dissolveu no império do macedônio que, por sua vez, se repartiu em volta do Mediterrâneo, antes de perecer sob a força das legiões romanas. A Grécia deixou de existir como uma identidade política desde aquele tempo fascinante. Venezianos e romanos e, mais tarde, os turcos, se fizeram senhores do arquipélago. A cultura grega só sobreviveu, porque emigrou para Roma e se tornou, com a expansão do domínio republicano e, em seguida, imperial, o alicerce da civilização a que chamamos ocidental.
Alexandre foi um relâmpago na história, e um grego autêntico, assim como fora seu pai, Filipe. A lenda lhe atribui paternidade divina. Aos grandes homens, de grandeza titânica, atribuía-se essa origem, porque superavam, na força e na inteligência, a fragilidade dos homens comuns. Um relâmpago teria atingido o ventre de Olímpia, mulher de Filipe e, nesse instante de estrondo e fogo, o futuro guerreiro foi concebido.
Em apenas 13 anos, Alexandre conquistou meio mundo conhecido. Mas, como sabemos, a sua glória não estava apenas nos combates e na inteligência militar. Ele foi o primeiro explorador, no sentido clássico, da História, ao conduzir, em seu séqüito, cientistas e pensadores. Nesse sentido, ele levou o Mediterrâneo ao Ganges, e reabasteceu o Mediterrâneo da sabedoria oriental.
Sua cidadania grega estava, acima de tudo, nas lições recebidas de Aristóteles, seu preceptor durante os três anos que o separam das primeiras ações militares – dos 13 aos 16 anos.
Os novos macedônios, ex-iugoslavos estão levantando, em sua capital, Skopje, uma estátua de Alexandre,em bronze, com
As duas repúblicas não têm razões para o orgulho em seu presente. A Grécia enfrenta uma das situações mais terríveis de sua história moderna, depois que se livrou do jugo turco, e teve que se valer de uma falsa monarquia, ao valer-se de príncipes europeus – e exportar alguns de seus descendentes a outros países, como o consorte da Rainha da Inglaterra, Philippos Schleswig-Holstein Soendenburg-Glucksburg, da Grécia e Dinamarca. Ou a princesa Sofia da Grécia, também descendente de príncipes dinamarqueses e holandeses, que se tornou, em 1975, por ser mulher de Juan Carlos, Rainha da Espanha.
É natural que a Grécia de Papandrou, acossada pelas exigências do neoliberalismo, que dificilmente cumprirá, sem que haja repressões sangrentas contra o povo, desempregado e aflito, reclame de um glorioso passado que os velhos e autênticos gregos viveram em seu território. É natural que exijam, para o seu patrimônio, a figura titânica de Alexandre e o nome da região grega que os habitantes da pequena região balcânica se atribuíram. Sem passado, os novos macedônios procuram arranjar um, e fustigados pela miséria, encomendaram em Florença um herói em bronze, na esperança de que esse estrangeiro no tempo possa dar-lhes um futuro.
Enquanto isso, os grandes do mundo, fazendo seus cálculos, sorriem. Os banqueiros, como se sabe, não choram.